Saturday, November 28, 2009

INTELECTUAL DE ESQUERDA NA POLÍTICA E NO PODER - DIALÉTICAS




Ao ler duas reportagens na imprensa, aparentemente bastante desconexas uma da outra, lembrei-me da candidatura de Jampa. Vamos às reportagens:

A primeira foi uma reportagem na Folha de S. Paulo sobre o aniversário do Centro Brasileiro de Planejamento (Cebrap), centro este que abrigou a nata da intelectualidade petista e tucana nos anos da ditadura. Um dos pesquisadores do Cebrap, o crítico literário Roberto Schwarz, acredita que a proximidade do intelectual de esquerda com o poder pode ser perigosa. Indo na contramão das análises ufanistas sobre o Brasil, Schwarz afirma: "
O que me parece errado é adotar uma visão rósea do curso geral do capitalismo porque o Brasil está com o vento a favor ou porque temos amigos no governo".

A segunda reportagem foi sobre o ranking de violência e vulnerabilidade juvenil montado pelo Ministério da Justiça. A Região Metropolitana do Recife aparece na 6a e 7a posição com Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes. São cidades onde a probabilidade do jovem ser vítima de violência é maior, comparada a outros lugares do Brasil.

O que as duas reportagens têm a ver uma com a outra? Bem, a segunda nos mostra que a violência na RMR é ainda absolutamente inaceitável, apesar de alguns tímidos avanços em algumas estatísticas. A frase de Schwarz, na primeira reportagem, de certo modo alerta para que não caiamos na auto-complacência por estarmos vivendo num período de prosperidade econômica. O intelectual de esquerda não pode, em momento algum, flertar com essa satisfação oficialista e as versões chapa-branca da realidade. Seu ofício é sempre desconfiar dos ufanismos. Ainda que tenha havido avanços, o simples reconhecimento desses avanços não pode aplacar nosso inconformismo diante de uma realidade sob vários aspectos tão abjeta e que exige ainda tanto trabalho e crítica.

Reconheço que a lógica do político é diferente. Se eleito deputado estadual, Jampa fará parte de um projeto maior, com articulações federais e estaduais, e não sei até que ponto achará uma posição confortável para criticar e se inconformar com a realidade existente num contexto em que ele estará, muito provavelmente, do lado do governo tanto no plano federal como estadual.

Não sou político e não prentendo ser um. Apenas gostaria de provocar o meu amigo Jampa. Espero que o intelectual de esquerda que conheci, o sociólogo preocupado com as lógicas de reprodução da desigualdade em nossa sociedade, continue ativo, caso chegue ao poder. Espero que seu desejo de transformação e sua inquietação diante de uma realidade inaceitável seja o começo da escalada da imaginação ao poder.

Cesar Melo

Cesar Melo estudou ciências sociais na UFPE, onde foi colega de turma de Jampa. Fez doutorado na Universidade da California e hoje é professor de literatura na Universidade de Chicago.

Saturday, November 21, 2009

A pegada ecológica do "brasileiro médio"

Recife verde é melhor pra todo mundo.



Recentemente, li num blogue local (veja aqui) que o brasileiro médio tem o maior consumo de gás carbônico (CO2) dentre os cidadãos dos países emergentes.


Tudo aquilo que fazemos (ver TV, passear, tomar uma com os amigos) ou consumimos (bens e serviços) implica, direta ou indiretamente, o lançamento de CO2, requerido na fabricação do bem, prestação do serviço ou realização da atividade, na atmosfera.


O “brasileiro médio” emite cerca de 10 toneladas de CO2 por ano! Ao agregado de CO2 consumido nas atividades diárias de uma pessoa, convencionou-se chamar de pegada ecológica .


No Brasil, costuma-se falar de meio-ambiente em termos abstratos. Não queremos distruir a Amazônia e para demonstrar nossas nobres intenções, plantamos um pau-brasil no jardim do prédio.


Mais grave, a ideia de “brasileiro médio” é uma ficção estatística, por trás da qual se escondem as nossas profundas desigualdades sociais. Como tudo o mais em nosso país, a responsabilidade pelo tamanho da pegada ecológica do brasileiro médio não pode ser atribuída igualmente a todos os brasileiros.


O estilo de vida das classes médias brasileiras é absolutamente anti-ecológico. Anda-se de carro pra cima e pra baixo, deixa-se luzes e eletrodomésticos ligados. Não se recicla nada. Não nos preocupamos, enquanto classe social, com os sérios impactos ambientais (e seus desdobramentos sociais e econômicos de médio e longo prazos) dos nossos comportamentos. O importante é o nosso bem-estar imediato.


As classes populares tendem a ter comportamentos mais ecologicamente corretos, embora geralmente – e infelizmente – os façam de modo inconsciente. Vão ao trabalho de bicicleta (transporte limpo) ou transporte público (coletivo); usam menos eletrodomésticos; não usam ar-condicionado; são eles os responsáveis pelo fato de o Brasil ser o maior reciclador de latas de alumínio no mundo.


Mas, na lógica social brasileira, muitos desses comportamentos ecologicamente corretos são, paradoxalmente, socialmente indesejáveis. Locomover-se no dia-a-dia de bicicleta ou de transporte coletivo é “coisa de pobre”, assim como o é reciclar latinha e outros materiais. Tampouco temos incentivos econômicos para mudarmos de atitude, dada a abundância da água e o consequente baixo custo da nossa matriz energética.


Um dos desafios mais importantes de JAMPA na Alepe será o de colocar o tema do meio-ambiente na pauta do debate público estadual. Mas não na forma abstrata tradicional (tipo plantar seringueira na Jaqueira). Teremos que pensar uma legislação eficaz que mude os incentivos econômicos e a prática social no sentido da promoção de comportamentos sustentáveis, com a diminuição paulatina da pegada ecológica das classes médias. Temos que ter metas. Por outro lado, temos que pensar meios de recompensar os setores sociais que têm um estilo de vida são e que usam menor dispêndio de CO2.


Tais medidas são fundamentais agora que, graças às políticas sociais do Governo do PT, temos no Brasil a emergência da nova classe-média: 20 milhões de brasileiros deixaram de ser pobres nos últimos anos, passando a ter acesso a bens e serviços até há pouco fora de seu alcance. Isso é sensacional e deve ser comemorado. Porém, temos que garantir que a ascensão à nova classe não implique no abandono de estilo de vida ecologicamente são. Para tanto, é preciso mecanismos institucionais de incentivos e recompensas econômicos às práticas ecologicamente corretas, assim como meios de desincentivos materiais de práticas insustentáveis (dentre as quais destaca-se o transporte individual motorizado, maior fonte poluídora urbana).

Thursday, November 19, 2009

JAMPA 2010 - RESPOSTA DE JAMPA PUBLICADA NO BLOGUE "ACERTO DE CONTAS"

O Blogue Acerto de Contas publicou a resposta de Jampa a uma coluna assinada por Pierre Lucena. O objetivo da resposta de Jampa não foi entrar na lógica do revide, criando uma polêmica estéril e gratuita. Pelo contrário: com muita firmeza, refutou aquilo que considerava impertinente na forma como o articulista do Acerto de Contas estava argumentando, e conclamou a um debate mais racional acerca da acusação feita por Pierre Lucena: a de que Jampa seria mais um caso de filhotismo da política Pernambucana. Seria interessante travar esse debate. Vemos nesse possível debate uma oportunidade para mostrar a Pernambuco a proposta da candidatura de Jampa e no que ela difere do que estamos habituados na política tradicional. Fica o convite para o próprio Acerto de Contas para um debate propositivo, onde todos possam ganhar, mesmo discordando sensivelmente um do outro.

Întegra da Carta


Prezados Marcos Bahé e Pierre Lucena,

Hesitei bastante antes de escrever uma resposta ao post escrito por Pierre Lucena a meu respeito no dia 13 deste mês. Pela qualidade do tratamento que me fora dado, achei que não mereceria resposta porque para as pessoas de inteligência que, julgo eu, frequentam o seu blogue, no ato mesmo de leitura do expediente utilizado, já perceberiam com exatidão a sua má vontade, e atentariam para seu comportamento inadequado.

Foi em respeito a seus leitores que resolvi responder. E isso porque eles têm o direito de saber com mais detalhes o que é que foi errado naquilo que foi posto. E se o blogue tiver o mínimo de dignidade, vai publicar minha resposta em post, usando o mesmo espaço utilizado de maneira mesquinha para falar de minha pessoa de maneira desrespeitosa.

Eu já reclamei aqui nesse mesmo blogue das ilações feitas a meu respeito. Na época o motivo tinha sido uma previsão futurológica (não sei se resultante de análises estocásticas) que previa que eu seria um “Lulinha” (que fora acusado de inúmeras coisas) insinuando que aproveitaria das ligações de meu pai para enriquecer meu cofre pessoal. Com base em que essas coisas foram ditas? Toda preocupação jornalistica se resumia ao expediente do achismo mais puro e absoluto, fazendo ilações totalmente despropositadas em relação a mim.


E agora a coisa não muda de qualidade. O expediente que você usa tem mesmo o cunho pequeno, mesquinho. Você poderia dizer essas mesmas coisas de maneira bem mais honestas se apenas explicitasse sua discordância na ordem da política. Você tem todo direito de achar uma idéia horripilante a cadidatura do filho de alguém que você abomina politicamente. É por ter essa consciência que repito que o está fora de decoro é a maneira jocosa e caricatural de tratar uma pessoa que você nem conhece nem procurou saber nada a respeito dela, usando informações incompletas, para assim expressar suas ideias “refinadas” a meu respeito. O que está errado é o uso covarde de meias informações, fazendo isso sob o pretexto de sempre poder se esconder por trás da falsa desculpa de que o espaço é “apenas um blogue” e você não é jornalista. Ora, convenhamos, o que está em jogo aqui é justamente a qualidade do Acerto de Contas. Que por sinal, como você pode notar, é um blogue que acompanho, que vejo alguma qualidade nele, do ponto de vista jornalistico, principalmente nos posts do seu amigo Bahé.

Ao escrever de modo jocoso, desrespeitoso e caricatural, que resposta você espera de seus leitores? Muitos virão, num efeito manada, concordar com você. Outros, inconformados com o tom desnecessariamente agressivo, reagirão com a mesma animosidade. Tanto a adesão quanto à oposição a seus argumentos, num contexto desses, acabam se caracterizando pela baixíssima qualidade intelectual. Que tipo de debate você pensa em fomentar com isso? Você tem todo direito em criticar a minha candidatura. Como eu tenho o direito de tentar convencer às outras pessoas que minha candidatura não é um epifenomeno do filhotismo que assola a política pernambucana. A grande contribuição que nós, políticos, intelectuais e jornalistas podemos dar à esfera pública pernambucana é um debate racional, fundamentado em fatos e pautado pelo respeito e tolerância mútuos.

Atenciosamente,

Jampa (meu nome não é JPLS Júnior)



Tuesday, November 17, 2009

CARTA DE JAMPA - OU A METÁFORA DO AVIÃO


O blogue publica, com grande prazer, a resposta de Jampa a um post escrito pelo amigo de Jampa, o ator João Lima.


Querido João,


Tem sido de minha vontade me manter distante das produções desse blogue entre outras razões porque tenho me dedicado à minha tese. De fato também não me parece ser de bom tom escrever num espaço criado por meus amigos para defenderem meu nome para uma possível candidatura minha à Assembléia Legislativa de Pernambuco.


Como não sou de fato ainda candidato, tomo a liberdade de falar ainda como sociólogo. De que maneira um sociólogo vê a sua esperança na política?


Na verdade eu não poderia calar diante aos questionamentos tão pertinentes de amigo de tão longa caminhada. Esse projeto atual, que envolve meu nome, é bonito, porque sensível às demandas sociais e políticas de nossa geração. Mas não só por isso. Meus amigos defendem que a viabilidade de meu nome provém também de características de uma trajetória singular na qual busquei, através das oportunidades que me foram dadas, ficar sempre sensível ao universo social tão problemático que é o nosso. Agradeço a todos pelo voto de confiança que alimenta minha vontade de mudança e aumenta ainda mais a minha responsabilidade diante dos desafios.


E obrigado, João, por palavras que mostram suas inquietações que de tão verdadeiras tocam o cerne de nosso mundo, cheio de mazelas e coisas a cuidar. Cheio de tantos não ditos espalhados e difusos por conta do nosso medo de enfrentar nossos próprios defeitos.


Sabemos todos: este estado de coisas precisa ser modificado. É isso que podemos dizer em uníssono. E talvez seja esse o lado mais imaginativo e forte desse projeto: retomar essa vontadae coletiva de mudar um estado de coisas tido como dado por cada um de nós, separadamente. E aí a pergunta que nos resta, diante de tal diagnóstico, é a de sempre: como mudar...?


Essa questão já foi feita por tantas pessoas, não é? Pelos nossos pais. Nossos avós. Não podemos esquecer. O que fazer? Quantos de nossa geração não tentam dar sentido a essa pergunta? Em parte, essa aparente repetição das mesmas perguntas se dá, a meu ver, porque o mundo apesar de mudado, sempre termina por reproduzir as suas estruturas de desigualdade. João, por favor, não veja determinismo nisso que eu digo. O que ponho em evidência apenas é que não é fácil lutar contra lógicas tão potentes e internalizadas, como você bem ressalta, e que a vontade é apenas um dos elementos que deve nos nutrir.


Mas digamos que, como queremos crer, a luta política institucional seja uma das formas de tentar mudar as coisas. Ou de tentar mantê-las, o que não é em si nenhum pecado, não podemos esquecer. Muitas das pessoas do meio político estão na política para isso. Faz parte também da lógica da política tentar se manter no poder, e ao fazer isso, termina-se ajudando a manutenção do status quo, não é verdade? Devemos nos precaver contra essas lógicas.


Muitos desses conservadores, digamos assim, foram eleitos de maneira legal, e portanto institucionalmente válida. E nesse sentido, e apenas nele, eu penso, devem ser respeitados. O problema é que ser conservador num país com tantos problemas parece ser absurdo demais. Para mim é. Deve ser por isso que pouca gente se admite de direita aqui no Brasil. Mas isso são outros quinhetos anos...


Meu ponto diz o seguinte: a bandeira que devemos levantar é a que pensamos poder carregar. A luta concreta por mudanças não se dá no plano ideal (que entretanto nos motiva): ela não é uma luta de homens e mulheres livres, mas uma luta por liberdades autênticas de seres que devem ser, sempre, historicamente situados. Não somos condenados à liberdade, como já dissera um conhecido filósofo, mas seres que, através da política podemos vencer alguns de nossos condicionamentos. Não devemos ser exageradamente realistas a ponto de virarmos conformistas, sem disposição para mudar as coisas. Mas não podemos ser quixotescos, com belos ideiais, mas incapazes de colocá-los em prática, por sermos inaptos para transigir com qualquer resquício de realidade. Devemos querer mudar o mundo, mas lembrando que isso só é possível quando atingimos corações e mentes das pessoas desse mesmo mundo que queremos mudar.


Minha visão de política é muito parecida com a que tenho da função política da sociologia, que é de cunho iluminista em última instância: a sociologia que quer se dar os meios de ser um elemento de ajuda na transformação de um mundo social injusto precisa centrar-se na análise dos condicionantes sociais das desigualdades. Tal como a ciência fez com a mitologia o objetivo da sociologia aqui é materializar um sonho. A humanidade que sonhava em voar imaginando Icarus alados só pôde realizar concretamente o seu sonho de descolar do chão quando se deu os meios de estudar as leis da aerodinâmica. A sociologia que estuda os condicionamentos sociais nos seus elementos reprodutivos de desigualdades pode trazer conhecimentos que ajudem a construir ferramentas para produzir liberdades mais concretas.


Por que digo tudo isso?


Nosso plano de decolagem política não pode se dar sem levar em consideração a construção já iniciada do avião institucional. Muito menos desconsiderar a construção da pista. Menos ainda sem ter em conta os conhecimentos a respeito das leis da aerodinâmica da política. Perdoe-me, João, o prolongamento da metáfora, mas acho que ela é apropriada para a ocasião. Precisamos ter claro que estamos entrando no debate político dentro de um partido, dentro de um projeto maior de nação, que quer se queira quer não, com defeitos e qualidades, foi implementado pelo Partido dos Trabalhadores, sob o comando do presidente Lula. E é nesse projeto maior que devemos nos enquadrar para propor nosso parafuso, para ser peça dessa imensa e possível aeronave. Em outras palavras: o problema que não é problema é que deve existir sim o nosso compromisso numa luta institucionalizada como é a da política com o caminho já trilhado pelas instituições democráticas que aí estão. E ter consciência disso é condição sem a qual o maior risco é o de sucumbir na idéia igênua de que estamos inventando as asas de um avião ainda sem estrutura, e findarmo-nos pulando em um abismo sem condição de voar.

Ao contrário disso, uma bandeira política responsável deve se consolidar defendendo os propósitos democráticos. Deve ser propositiva, imaginativa e inteligente. Por isso defendo que devamos buscar nos propósitos de fundação do Partido dos Trabalhadores o alicerce socialista e democrático de nossas proposições políticas. O novo na política, muitas vezes, nada mais é de que nossa capacidade de, com alguma imaginação, nos apropriar de elementos importantes do fundamento de um ideal de justiça já posto. O PT traz isso e leva consigo as marcas históricas de um esforço real que leva sempre a desajustes e incompreensões. E as novas gerações devem chegar para lembrar o que deveria ser reafirmado sempre e que fôra esquecido pela rotinização da disputa pelo poder: o maior propósito de um partido socialista e democrático deve ser reafimar sempre os ideiais fundantes que constituem seu propósito de justiça social. Tenho certeza de que muitos dos que aí estão, já calejados pelo cotidiano político, reabraçariam de bom grado um velho caminho com novos contornos. É acreditando nisso que penso na política. É pensando nisso que fico feliz ao ver esse projeto começar.

Obrigado mais uma vez, João e amigos, pelas palavras e confiança,

Jampa.


Sunday, November 15, 2009

O outro lado

Um blog local publicou um texto grotesco - desinformado e agressivo - criticando a candidatura de Jampa (veja aqui, mas com cuidado, pra não vomitar). Um dos amigos de Jampa colocou um comentário lá, respondendo aos ataques. Tendo em vista o modo jornalístico do dono do blog, que de moderno só tem o formato (pois reproduz o jornalismo canhestro praticado por alguns meios no formato tradicional), dificilmente será dado espaço equivalente para "o outro lado". Tirando vantagem da blogosfera, a gente se encarrega de suprir essa lacuna.


Cesar Melo disse:

Pierre Lucena,


Acredito que o primeiro passo de qualquer análise bem feita é tratar os fatos e as pessoas com seriedade e respeito. Apenas aqueles que não se sobressaem por suas ideias, recorrem a expedientes desnecessariamente vulgares, como esse procedimento de não chamar Jampa pelo nome dele. Chamar Jampa de “JPLS Junior” seria como chamar Pierre Lucena de “estafeta de Raul Henry”. Enfim, nada contribui para o debate de ideias, não acha? Chame as pessoas pelo nome delas. Será um primeiro gesto – de tantos outros – para você se tornar um analista sério.


Você chama Jampa de político sem voto (como se uma pessoa que se lança à vida política pela primeira vez tivesse que ter voto), enfatiza que o mesmo nunca fez política de verdade (como se uma pessoa que deseja entrar na atividade política devesse ter experiência anterior). Enfim, suas objeções são tão substantivas quanto a de alguém que critica um aluno prestes a fazer vestibular de não poder entrar na universidade por não ter feito prova de vestibular e não ter experiência universitária. Talvez seja a sofisticação da “cabeça de financista”, como você mesmo atribuiu sua incapacidade de entender uma mensagem simples de Jampa: ele tem uma trajetória de vida peculiar por ter vivido em classes sociais apartadas.


Enfim, o próprio político com quem você tem grandes afinidades, Raul Henry, embora não seja “filho”de Jarbas, aproveitou-se da mesma estrutura do “filhotismo”da política pernambucana, sendo guindado a postos estratégicos da administração, e dessa maneira, ocupou espaços na política. E, olhe lá, não se pode comparar o preparo intelectual de Jampa, com Raul Henry.


O que eu posso lhe dizer, Pierre Lucena, é que, queira você ou não, você ouvirá bastante o nome de Jampa nos próximos anos da política. Ele tem densidade, personalidade e, veja só, ideias próprias. E vai fazer toda a diferença quando entrar no cenário político pernambucano.

Thursday, November 12, 2009

Somos mais livres do que imaginamos

Publico aqui nesse espaço coletivo o texto, a um só tempo sensível , incisivo e poeticamente forte, do nosso amigo João Costa Lima, escrito em 2007 e adaptado para o blog. É uma honra contar com essa contribuição de uma pessoa tão querida quanto admirada, e uma das mentes mais inquietas, curiosas, criativas e pensantes da nossa geração.


Caro Jampa,

Não vai ser fácil escrever estas palavras. Tratam-se de impressões que há muito me ocorrem, sempre com bastante força, suficiente pra me fazer escrever isto pra ti. Escrevo por acreditar que também escrevemos o futuro, escrevo por necessidade.

Desde que decidi sair do Brasil (numa viagem íntima de emancipação e em busca de ampliar a minha leitura do mundo), venho inevitavelmente vivendo memórias e impressões do Recife de maneira atávica. De tal modo que, nestes dias de distância, sempre procurei manter-me informado e atento à história atual desta cidade, que também é a minha história.

Assim, observo o intenso sufocamento e a assustadora violência a que o Recife vem vivendo, em crescimento até agora incontrolável. Percebo esta situação, mesmo que a partir de uma posição bastante privilegiada, comparando-se à maior parte da população. Vejo a miséria tomar as mais diversas formas, atingindo a tudo e a todos com golpes de terror. Toda esta violência, este trânsito, a corrupção e a inconseqüente construção vertical parecem sem limites. A desigualdade social é o coração desta febre e cresce a todo vapor, sendo causa e conseqüência deste agora tão escuro.

Assisto ao êxodo acelerado da minha geração com um misto de perplexidade e compreensão (entendo-o bem, pois também faço parte deste movimento). Assusto-me ainda mais com o sentimento de aceitação e normalidade quase que generalizado, por parte da sociedade recifense diante do caos que toma conta da cidade. O que percebo é cansaço, cinismo e medo, muito medo de encarar esta realidade com frontalidade e o desejo de transformação necessária.

Da onde vem este sentimento derrotista? A quem interessa este silêncio?

Fico pensando que a nossa geração envelheceu rápido demais, ou talvez “aprendeu” a emudecer, “porque assim é mais seguro”… ou, quem sabe até estejamos todos atordoados, sem saber como e por onde agir. No entanto sei, e sabemos todos, que não precisamos de heróis e que nossos inimigos, somos nós mesmos. E se, mais do que nunca, a defesa dos ideais, e qualquer engajamento político, soa antiquado ou desacreditado, como podemos reinventar caminhos por um mundo mais justo, mais condizente com os nossos desejos? Para começar, parece-me evidente que, a cada instante, devemos fazer escolhas em direção à ética, reconstruindo os sentidos desta palavra e o terreno para uma vida mais fraterna, o que a todos interessa, não?

Sem desejo de transformação, tudo permanece como sempre foi, e se nosso momento na história é diferente de qualquer outro, devemos buscar nossas próprias formas de criá-la, como nós a desejamos. Lembro-me dos ensinamentos do Paulo Freire, ao dizer que “interessa o saber da história como possibilidade e não como determinação, pois não sou apenas objeto da história mas seu sujeito igualmente” ou ainda “ o mundo não é o mundo, está sendo”. A história é agora.

E sabendo que não é possível fazer história sem os pés bem assentados na consciência crítica, é também evidente que não podemos perpetuar a devastação à nossa volta. Nossas ações são decisivas, sejam elas mais ou menos simples. Com humildade e alegria, percebo que eu sou o meu projeto de mundo.


Aonde quer que estejamos, em qualquer situação, podemos fazer a diferença, abrindo espaços de invenção permanente. E como sei que cada um de nós tem desenvolvido formas diferentes de intervir no mundo, acho que é hora de juntarmos nossos esforços e nossas visões em um encontro por celebração e transformação. Como criar nossos meios de comunicação? Como intervir no seio da sociedade recifense em busca de debate? Como apresentar alternativas de vida? Como fazer tudo por um pouco mais de ternura?


Jampa, meu amigo, já nos conhecemos a muito tempo, tempo suficiente para que eu possa acompanhar a tua trajetória e reconhecer na tua integridade o perfil de homem ético, capaz de unir esforços e representar uma geração, em luta por uma vida mais fraterna, mais justa, mais digna de ser vivida por todos. Este teu projeto, meu amigo, é vibrante, e este momento, histórico.


Estas palavras são minhas, gostaria de saber quais são as tuas. No fundo somos mais livres do que imaginamos. Ainda há muito para se fazer, e isto não é nada mal, terrível mesmo seria se não tivéssemos mais nada para criar. Estou contigo neste desafio.


Com afeto,


João Costa Lima

Wednesday, November 11, 2009

Ocupando o vácuo político

Recentemente estive conversando com um amigo jornalista, que me expôs algumas preocupações que, acredito, reflitam o que pensa uma grande parcela dos jovens pernambucanas das classes médias.


Antes de tudo, vale deixar clara a importância do Poder Legislativo. É lá onde se travam os conflitos sociais de forma institucionalizada. As demandas dos diferentes setores sociais ali se encontram representadas por meio dos deputados, que expressam visões de mundo e lutam por interesses que, idealmente, refletem aqueles grupos que representam. A ideia da candidatura de Jampa surge justamente porque nós identificamos que há um vácuo de representatividade. Há setores significativos do eleitorado pernambucano que não se sentem contemplados na Assembléia Legislativa, principalmente entre as gerações mais novas. Nosso objetivo é preencher esse espaço político vazio. Como explicou o próprio Jampa, em recente entrevista à Folha de Pernambuco (leia aqui): “O que dá para se construir é que é possível responder a uma demanda estrutural... Meu papel político é ocupar um espaço para o qual existe demanda, mas não há quadro que represente”. Políticas de esportes, incentivo à cultura, ocupação do espaço urbano, educação, meio ambiente... são todas questões que afetam o dia-a-dia dos pernambucanos e cuja solução passa inexoravelmente pelo Legislativo. É importante termos lá alguém com quem nos identifiquemos.


Diante disso, esse meu amigo me respondeu que talvez Jampa pudesse contribuir melhor para a transformação da sociedade de maneira independente, fora de mecanismos partidários-governamentais. De fato, existem várias maneiras de contribuir e elas são complementares. Acontece que Jampa reúne qualidades e condições que o credenciam a postular o cargo de parlamentar estadual. Ele tem chances concretas de estar lá, no fórum onde as leis são decididas e os embates, travados. Uma vez na Assembleia, Jampa poderá dar voz a esses outros mecanismos não-partidários-governamentais, canalizando institucionalmente suas demandas e inserindo-os no processo legislativo.


Em seguida, meu amigo perguntou por que não fundar um novo partido político. Seria inócuo fundar novo partido. O PT cumpre muito bem (às vezes mais, às vezes menos bem!) a função de canalizar demandas de setores populares e progressistas. Repare que os melhores ministérios do Governo Lula são aqueles ocupados pelo PT (Educação, Cultura, Justiça, Desenvolvimento Social, Fazenda...). É muito mais producente e consequente se envolver e tentar aperfeiçoá-lo de dentro do que começar do zero. Boa parte dos problemas do PT, aliás, deriva do nosso sistema partidário, que tem incentivos negativos que geram maus comportamentos (disputa intra-coligação, personalização, financiamento privado de campanha, etc.). Enquanto não houver reforma política, incentivos negativos gerarão comportamentos negativos. Apesar de todos os problemas – e boa parte deles são sistêmicos e não intrínsecos ao partido –, o PT ainda é o único partido de fato no Brasil, ainda é o único que tem algum tipo de vida partidária, é o mais democrático e o mais orgânico, com fortes ligações com os movimentos sociais. O próprio presidente Lula falou disso em entrevista recente à Folha de São Paulo (leia aqui). Por fim, Jampa morou na França e sabe muito bem os efeitos deletérios da fragmentação das Esquerdas, fenômeno que ocorre lá.


Dentro desse contexto, o diferencial do nosso projeto em torno de Jampa será no campo das ideias. Ao dar vazão a esses setores sociais que hoje não se encontram representados, sobretudo os mais jovens, estaremos levando à arena política pernambucana novas ideias e visões em sintonia com as demandas e interesses desses grupos. O vácuo está aí, nossa meta é ocupá-lo e Jampa é o instrumento.

Sunday, November 8, 2009

JAMPA 2010 - ENTREVISTA NA FOLHA DE PERNAMBUCO



Jampa deu uma longa entrevista para a Folha de Pernambuco dessa segunda-feira.

Falou sobre a possibilidade de sua candidatura e, com muita propriedade, discutiu os novos espaços que sua atuação política poderia ocupar. No final, declarou que considera falsa essa dicotomia entre pragmatismo do "pode pelo poder" e o radicalismo de uma pureza ideológica que se recusa a se contaminar com a realidade que gostaria de mudar. O que é uma visão sensata e equilibrada.

Vejam a seguir, a entrevista:

João Paulo Lima e Silva Filho, o Jampa, é filho do ex-prefeito do Recife João Paulo. A genealogia seria o bastante para ingressar na política. Pretenso candidato a deputado estadual em 2010, Jampa, no entanto, avisa: não é produto do “filhotismo”. Ao mesmo tempo, sabe que “a ideia de continuidade é muito forte, quase uma coisa de sangue”. A decisão de se candidatar não passou pelo crivo do pai, pegou de surpresa o próprio João Paulo e muita gente no PT, mas já ganhou o apoio público de gente como a presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo.

João Paulo, seu pai disse que você nunca se interessou em disputar um cargo político, mas agora parecia muito motivado. De onde vem a motivação para tentar um mandato de deputado?

A motivação vem muito da instigação que outras pessoas mostraram para mim quando a ideia veio à tona. Uns amigos pediram autorização para colocar a ideia em um blog para ver a receptividade da coisa, e nos debates que eles estão estabelecendo estou sentido que existe algo por trás dessa ideia que pode ser muito proveitosa para todo mundo. E todo mundo que eu digo são setores da sociedade pernambucana que não se sentem contemplados com os quadros que estão postos aí e sentem a necessidade de ter uma outra voz de esquerda que represente novas formas de estabelecer o debate no domínio público.

Que nova forma de estabelecer o debate é essa? Que bandeiras você pretende empunhar nessa empreitada?

A ideia ainda é muito embrionária. Na verdade, as bandeiras partem muito mais da avaliação de que existe uma sensibilidade nova da trajetória que eu tive, que simplesmente ser filho de quem eu sou. É uma coisa que não dá para dissociar. É uma trajetória muito particular que tem a ver com a trajetória dele, mas ao mesmo tempo não se confunde com a trajetória dele. O que a gente vem discutindo muito é essa posição particular que eu tive que confrontar para me constituir enquanto pessoa, que é o fato de ter participado no mesmo momento de setores sociais muito apartados. Meu pai se elegeu vereador, foi deputado durante dois mandatos, mas, durante esse tempo, decidiu se manter no lugar de origem. Então, eu morei até os 19 anos em um bairro pobre, que é a UR-6. Ao mesmo tempo eu estudava em colégios de classe média alta e tive a oportunidade de conviver com universos sociais que normalmente não se comunicam entre si. Alguns dos meus amigos de infância se marginalizaram, morreram no tráfico de drogas, enquanto os amigos da classe média se tornaram advogados, jornalistas... Ainda não existe um programa, mas uma sensibilidade que pode levantar uma série de bandeiras que podem ser debatidas com a maior seriedade. A princípio, uma das coisas que me chamam muito a atenção é retomar o debate sobre a questão da escola pública, que está aí desde o Brasil Império. A divisão entre educação pública e privada reforça as diferenças sociais. Tenho identificação muito grande também com as questões da juventude e o problema da violência. Essa vivência forte da infância como um mundo um pouco idílico e no qual as pessoas com quem eu gostava de jogar bola depois matavam uns aos outros me faz pensar sobre essas trajetórias de vida.

Você seria então a representação desses dois lados sociais? Seria uma diferencial no seu pleito se colocar como um interlocutor desses dois mundos?

Eu não me considero uma pessoa do povo. Tive uma educação extremamente diferenciada da maioria dos jovens. Além de frequentar escolas de classe média tive a oportunidade de estudar em universidades européias. Seria falso colocar que estaria representando de maneira autêntica esses dois setores. Faço parte de um grupo social, mas existem questões no mundo social brasileiro e de Pernambuco que transpassam os interesses específicos de cada setor. Eu tive que mediar essas coisas em mim, de mudar de classe social sem me sentir um traidor. Isso é um motor que pode me levar a ser um vetor de transformações.

Nessa semana o presidente Lula fez uma convocatória, aqui no Recife, para que as pessoas da área de saúde repensassem a forma de enfrentamento do crack, dos problemas das drogas em geral. Essa é uma preocupação sua enquanto político que pretender falar à juventude?

Com certeza. Inclusive tenho amigos que se viciaram. A iniciativa do Lula é muito importante porque o crack é tido como derivado da cocaína, então não existe política pública específica para o usuário da droga. Nas clínicas que cuidam disso, nos Capes, a maneira de lidar com esse tipo de usuário é totalmente diferente. É urgente que o Governo Federal e autoridades da saúde façam esse indicativo de que o crack não é uma droga como as outras e produz tipo de problema social ainda desconhecido pelo setor público, pois o crack não é uma droga como as outras e precisa ser tratada como tal. O Legislativo também pode contribuir nesse debate com novas leis.

Mesmo sua candidatura não tendo sido costurada por seu pai, muitos dirão que você tenta utilizar o prestígio de João Paulo para ocupar um espaço político. Está pronto para responder a essa desconfiança?

Não posso dizer o que vai acontecer do ponto de vista objetivo. O que já dá para perceber de cara é que a própria preocupação reflexiva que há na proposta de colocar meu nome como candidato já tende a evitar esse processo. Isso já diferencia a minha candidatura de outras postas no mercado eleitoral. Minha candidatura não é uma reprodução do “filhotismo”. Tenho o mesmo nome do pai, a ideia de continuidade é muito forte, uma coisa de sangue. Na terça-feira, na festa de aniversário do meu pai, muitas pessoas disseram “tal pai tal filho”, “filho de peixe peixinho é”. Então essas coisas, apesar de todo o controle que se tente exercer, elas estarão presentes. Todavia, no próprio blog a gente já começou fugindo dessa associação direta. Tanto que não uso meu nome, que é o mesmo do dele, e sim o Jampa, que é um apelido carinhoso que foi dado na infância. Isso já indica uma postura de que existe algo mais nessa trajetória do que o simples fato de ser filho de João Paulo, essa grande figura.

Ainda assim você espera contar com a presença dele na sua campanha?

Ainda não pensei nessas coisas. Sempre fui uma pessoa muito crítica às lógicas de reprodução do mundo social. Grande parte das coisas que eu estudo na sociologia me diz que essas coisas muitas vezes estão sendo maquinadas por uma estrutura mais ampla que uma mera escolha pessoal. Existe uma maturidade em relação ao fato de perceber que, mesmo que não queira, o peso do nome dele vai cair sobre a minha candidatura. O que dá para se construir é que é possível responder a uma demanda estrutural... Meu papel político é ocupar um espaço para o qual existe demanda, mas não há quadro que represente.

Algumas notas da imprensa dão conta de uma ciumeira de outros candidatos do CEU com a sua candidatura. Sua decisão de se lançar a deputado estadual gera desconforto para alguém dentro do partido?

Se existir isso, porque não ouvi nada a esse respeito, pode ser pelo desconhecimento. As pessoas não conhecem o meu percurso, o que tenho a dizer, a oferecer. É natural que surja a ciumeira por conta dessa ideia de ser simplesmente o filho de alguém conhecido que quer se aproveitar. Acho que a partir do momento que a candidatura seja homologada, que as pessoas vejam que eu tenho algo para contribuir com o partido e com a sociedade, isso será minimizado. Por exemplo, fiquei muito feliz com o depoimento e a adesão de Luciana Azevedo (PT), que é uma pessoa que admiro muito.

Você é um entusiasta da candidatura de seu pai ao Senado?

Eu sou. Acho que ele teria uma contribuição importante para dar, inclusive por conta dessa crise na instituição. Ele é um personagem que encarna um modelo de conduta política invejável do ponto de vista da ética e da maneira como assume os compromissos.

Qual a sua história no PT?

Eu me filiei ao PT em 2006, no momento de maior desgaste histórico. Eu achava que poderia contribuir com o debate das coisas que levaram o PT a se desagregar dessa forma e ao mesmo tempo tinha e tenho a crença até hoje de que o Partido dos Trabalhadores tem uma bandeira maior que a sua própria história. O documento de fundação do partido é muito bonito, serve de inspiração para a luta política das transformações sociais. Essas bandeiras não podem ser perdidas nem pelo pragmatismo político da manutenção do poder a todo custo, nem também de um radicalismo ideológico que não contemple a realidade. Não é preciso estar num ou outro extremo dessa dicotomia.

Friday, November 6, 2009

JAMPA 2010 - MAIS UMA DECLARAÇÃO DE SIMPATIA À CANDIDATURA DE JAMPA


Nota do Diário de Pernambuco de hoje:

Chaves e Jampa // O deputado federal José Chaves (PTB), vê com bons olhos a articulação em torno da candidatura do João Paulo Filho, o Jampa, a deputado estadual. O petebista vê a possibilidade de dobradinhas em vários segmentos. "Jampa alia o DNA político herdado do pai (João Paulo) com uma sólida formação acadêmica como sociólogo", destaca.

Estamos discutindo há algumas semanas a possibilidade da candidatura de Jampa - quais seriam suas potencialidades, seus projetos, o espaço a ser alcançado na esfera pública por Jampa. O que mais tem nos impressionado é a recepção do nome de Jampa no campo político, nos seus mais diversos segmentos. Com o apoio de Luciana Azevedo, aprendemos que a candidatura de Jampa não seria apenas apoiada por um político - João Paulo. Com a declaração do deputado federal José Chaves fica claro como a simpatia pela candidatura de Jampa ultrapassa os limites partidários. O que apenas corrobora as qualidades da candidatura, já apontadas aqui nesse blogue: Jampa é um mediador, capaz de navegar em diferentes meios e apto a dialogar com uma gama enorme de interlocutores.


Thursday, November 5, 2009

Combatendo as desigualdades estruturais

As desigualdades socioeconômicas são umas das características mais marcantes da sociedade brasileira, já é lugar-comum dizer. Mesmo assim, é preciso repetir e, mais ainda, buscar entender.



Como diz Eduardo Galeano, “(...) dentro de cada país se reproduz o sistema internacional de domínio que cada país padece”. E, dentro de cada grande metrópole brasileira, tal ordem se manifesta, a repetir fenômeno análogo que ocorre no nível internacional, interregional e nacional.



As desigualdades econômicas engendram todo um sistema social pleno de desigualdades. As políticas públicas são elaboradas por e para os setores médios, em detrimento dos setores populares. O problema é estrutural.



A questão, em Recife (assim como no Brasil, na América Latina, etc) não é falta de recursos, não é de pobreza. Mas, sim, a sua distribuição desigual e injusta. Por exemplo, na América Latina, se gasta mais com educação como proporção do PIB do que no Leste asiático (3,7% e 3,4%, respectivamente). E no entanto, a qualidade da educação pública no nosso continente está entre as mais baixas do mundo. A maior parte dessas despesas vai para o ensino superior, altamente subsidiado – beneficiando principalmente jovens dos setores médios educados em escolas particulares.



Nossa desigualdade estrutural se reflete, assim, nas mais diversas áreas de atuação do Estado. Em 1989, 58% dos brasileiros concordavam totalmente e 26% concordavam parcialmente com a afirmação de que “No Brasil, o sistema judiciário só funciona para ajudar aos poderosos”. E não vale culpar o Estado, estratégia cara aos neoliberais, hoje tão fora de moda. Como vimos em texto recente aqui no blog, o modelo econômico também reflete essa realidade brasileira de desigualdade sistêmica: enquanto há uma oferta abundante de novas moradias para os setores médios, mais de 50% da população recifense vivem em moradias precárias. O mercado não resolve tudo.



O Governo Lula entendeu que o crescimento viável, de longo prazo, no Brasil, só seria possível se tais desigualdades – tanto no âmbito social, como no regional – fossem combatidas de frente.



Um conjunto de políticas públicas vem realizando essa inversão de valores, já prenunciada pela gestão local do prefeito João Paulo. A valorização do salário mínimo, a oferta do micro-crédito, a interiorização das universidades federais com foco nos cursos de pedagogia, o aumento do número de equipes do Programa Saúde da Família, a institucionalização de sistema amplo de bem-estar social, o Pronaf, o piso nacional do professor são algumas das políticas públicas que, integradas, têm possibilitado o desenvolvimento econômico do Nordeste acima da média nacional. A entrada agora da Venezuela no Mercosul se encaixa nessa visão holística do Brasil: finalmente o Mercosul se torna uma realidade para o Norte e Nordeste do país, vindo a somar-se a outras medidas que têm dinamizado sobremaneira a economia regional.



As desigualdades sociais que marcam o nosso estado não são nem inevitáveis nem tampouco irreversíveis. Mas é preciso vontade e capacidade de compreensão para repetir a nível local aquilo que vem se passando a nível nacional. O PIB per capta em Recife é de R$ 12,000, enquanto a média de Pernambuco fica em cerca de R$ 6,000. Vejo em JAMPA alguém que entende esse processo por que passa o nosso estado. O atraso relativo do Nordeste em relação ao resto do Brasil não era um dado da natureza. Com uma série de políticas públicas integradas, estamos revertendo esse processo histórico. O mesmo deve ocorrer a nível estadual.



Monday, November 2, 2009

JAMPA 2010 - ENTRE O SOCIÓLOGO E O OPERÁRIO


O Partido dos Trabalhadores foi fundado a partir de uma aliança entre operários, intelectuais de esquerda e setores progressistas da Igreja Católica. Deu-se no PT a união entre o martelo, a pena e a cruz avermelhada da Teologia da Libertação. Apesar da aliança, essa relação foi sempre tensa. Os intelectuais seriam necessários para politizar os operários? Os operários, a partir da crítica de suas próprias condições de trabalho, espontaneamente liderariam o processo de mudança social? Todo esse debate parece um tanto escolástico nos dias de hoje, mas se fazia presente nos circulos de esquerda do final da década de 1970.

É interessante observar, no entanto, que a dinâmica política brasileira acabou dando um lugar privilegiado para a figura do intelectual e do operário. Praticamente nos últimos 16 anos fomos governados por um sociólogo e por um operário, cujas identidades eram fortemente definidas por suas profissões. O prestígio de Fernando Henrique era, em parte, resultado de sua formação intelectual exemplar. Muitas das críticas à sua personalidade estavam atreladas à sua condição de letrado: como intelectual, parecia muito distante das reais necessidades do povo, sentindo-se mais à vontade nos salões da Sorbonne que numa vaquejada no sertão. O inverso ocorria com Lula: inicialmente estigmatizado por ser um operário sem muita instrução formal e depois louvado por, sendo operário e fazendo parte do povo, saber mais que qualquer outro político das reais demandas da população.

Mas o que dizer de alguém que tendo uma formação intelectual sólida, viveu e cresceu num lar proletário, num bairro pobre da região metropolitana do Recife ? Que tipo de sensibilidade se adquire na vivência entre mundos tão distantes? Essas perguntas são necessárias, pois elas lidam com uma experiência nova na sociedade brasileira, incorporada por alguém como Jampa, que viveu a infância e adolescência na UR-6, sofrendo os estigmas e ansiedades de uma juventude carente de visibilidade social; e que trilhou uma carreira acadêmica sólida e séria nos bancos universitários europeus e brasileiros, onde pode sofistificar sua visão crítica das terríveis desigualdades que permeiam a sociedade brasileira.

Quando eu digo que essa é uma experiência nova na sociedade brasileira, refiro-me a uma juventude pobre e desassistida que, graças ao ProUni do governo Lula, ingressou e tem ingressado no ensino superior. Eles hoje têm acesso à educação formal. Muitos ingressarão em pós-graduações, e juntarão a essa vivência acadêmica a perspectiva das pessoas que vieram de baixo. Vivemos numa transição profunda, onde a polaridade entre doutores e operários torna-se cada vez mais artificial. Para esse Brasil novo que vem aí, precisamos de novas lideranças, que entendam as consequências dessas mudanças.

Quando dizemos que Jampa representa algo novo na política, nos referimos ao novo espaço criado por alguém com sua trajetória de vida peculiar, capaz de mediar tensões e representar atores sociais cada vez mais emergentes.