Saturday, November 21, 2009

A pegada ecológica do "brasileiro médio"

Recife verde é melhor pra todo mundo.



Recentemente, li num blogue local (veja aqui) que o brasileiro médio tem o maior consumo de gás carbônico (CO2) dentre os cidadãos dos países emergentes.


Tudo aquilo que fazemos (ver TV, passear, tomar uma com os amigos) ou consumimos (bens e serviços) implica, direta ou indiretamente, o lançamento de CO2, requerido na fabricação do bem, prestação do serviço ou realização da atividade, na atmosfera.


O “brasileiro médio” emite cerca de 10 toneladas de CO2 por ano! Ao agregado de CO2 consumido nas atividades diárias de uma pessoa, convencionou-se chamar de pegada ecológica .


No Brasil, costuma-se falar de meio-ambiente em termos abstratos. Não queremos distruir a Amazônia e para demonstrar nossas nobres intenções, plantamos um pau-brasil no jardim do prédio.


Mais grave, a ideia de “brasileiro médio” é uma ficção estatística, por trás da qual se escondem as nossas profundas desigualdades sociais. Como tudo o mais em nosso país, a responsabilidade pelo tamanho da pegada ecológica do brasileiro médio não pode ser atribuída igualmente a todos os brasileiros.


O estilo de vida das classes médias brasileiras é absolutamente anti-ecológico. Anda-se de carro pra cima e pra baixo, deixa-se luzes e eletrodomésticos ligados. Não se recicla nada. Não nos preocupamos, enquanto classe social, com os sérios impactos ambientais (e seus desdobramentos sociais e econômicos de médio e longo prazos) dos nossos comportamentos. O importante é o nosso bem-estar imediato.


As classes populares tendem a ter comportamentos mais ecologicamente corretos, embora geralmente – e infelizmente – os façam de modo inconsciente. Vão ao trabalho de bicicleta (transporte limpo) ou transporte público (coletivo); usam menos eletrodomésticos; não usam ar-condicionado; são eles os responsáveis pelo fato de o Brasil ser o maior reciclador de latas de alumínio no mundo.


Mas, na lógica social brasileira, muitos desses comportamentos ecologicamente corretos são, paradoxalmente, socialmente indesejáveis. Locomover-se no dia-a-dia de bicicleta ou de transporte coletivo é “coisa de pobre”, assim como o é reciclar latinha e outros materiais. Tampouco temos incentivos econômicos para mudarmos de atitude, dada a abundância da água e o consequente baixo custo da nossa matriz energética.


Um dos desafios mais importantes de JAMPA na Alepe será o de colocar o tema do meio-ambiente na pauta do debate público estadual. Mas não na forma abstrata tradicional (tipo plantar seringueira na Jaqueira). Teremos que pensar uma legislação eficaz que mude os incentivos econômicos e a prática social no sentido da promoção de comportamentos sustentáveis, com a diminuição paulatina da pegada ecológica das classes médias. Temos que ter metas. Por outro lado, temos que pensar meios de recompensar os setores sociais que têm um estilo de vida são e que usam menor dispêndio de CO2.


Tais medidas são fundamentais agora que, graças às políticas sociais do Governo do PT, temos no Brasil a emergência da nova classe-média: 20 milhões de brasileiros deixaram de ser pobres nos últimos anos, passando a ter acesso a bens e serviços até há pouco fora de seu alcance. Isso é sensacional e deve ser comemorado. Porém, temos que garantir que a ascensão à nova classe não implique no abandono de estilo de vida ecologicamente são. Para tanto, é preciso mecanismos institucionais de incentivos e recompensas econômicos às práticas ecologicamente corretas, assim como meios de desincentivos materiais de práticas insustentáveis (dentre as quais destaca-se o transporte individual motorizado, maior fonte poluídora urbana).

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