Monday, November 2, 2009

JAMPA 2010 - ENTRE O SOCIÓLOGO E O OPERÁRIO


O Partido dos Trabalhadores foi fundado a partir de uma aliança entre operários, intelectuais de esquerda e setores progressistas da Igreja Católica. Deu-se no PT a união entre o martelo, a pena e a cruz avermelhada da Teologia da Libertação. Apesar da aliança, essa relação foi sempre tensa. Os intelectuais seriam necessários para politizar os operários? Os operários, a partir da crítica de suas próprias condições de trabalho, espontaneamente liderariam o processo de mudança social? Todo esse debate parece um tanto escolástico nos dias de hoje, mas se fazia presente nos circulos de esquerda do final da década de 1970.

É interessante observar, no entanto, que a dinâmica política brasileira acabou dando um lugar privilegiado para a figura do intelectual e do operário. Praticamente nos últimos 16 anos fomos governados por um sociólogo e por um operário, cujas identidades eram fortemente definidas por suas profissões. O prestígio de Fernando Henrique era, em parte, resultado de sua formação intelectual exemplar. Muitas das críticas à sua personalidade estavam atreladas à sua condição de letrado: como intelectual, parecia muito distante das reais necessidades do povo, sentindo-se mais à vontade nos salões da Sorbonne que numa vaquejada no sertão. O inverso ocorria com Lula: inicialmente estigmatizado por ser um operário sem muita instrução formal e depois louvado por, sendo operário e fazendo parte do povo, saber mais que qualquer outro político das reais demandas da população.

Mas o que dizer de alguém que tendo uma formação intelectual sólida, viveu e cresceu num lar proletário, num bairro pobre da região metropolitana do Recife ? Que tipo de sensibilidade se adquire na vivência entre mundos tão distantes? Essas perguntas são necessárias, pois elas lidam com uma experiência nova na sociedade brasileira, incorporada por alguém como Jampa, que viveu a infância e adolescência na UR-6, sofrendo os estigmas e ansiedades de uma juventude carente de visibilidade social; e que trilhou uma carreira acadêmica sólida e séria nos bancos universitários europeus e brasileiros, onde pode sofistificar sua visão crítica das terríveis desigualdades que permeiam a sociedade brasileira.

Quando eu digo que essa é uma experiência nova na sociedade brasileira, refiro-me a uma juventude pobre e desassistida que, graças ao ProUni do governo Lula, ingressou e tem ingressado no ensino superior. Eles hoje têm acesso à educação formal. Muitos ingressarão em pós-graduações, e juntarão a essa vivência acadêmica a perspectiva das pessoas que vieram de baixo. Vivemos numa transição profunda, onde a polaridade entre doutores e operários torna-se cada vez mais artificial. Para esse Brasil novo que vem aí, precisamos de novas lideranças, que entendam as consequências dessas mudanças.

Quando dizemos que Jampa representa algo novo na política, nos referimos ao novo espaço criado por alguém com sua trajetória de vida peculiar, capaz de mediar tensões e representar atores sociais cada vez mais emergentes.




No comments: