Sunday, November 8, 2009

JAMPA 2010 - ENTREVISTA NA FOLHA DE PERNAMBUCO



Jampa deu uma longa entrevista para a Folha de Pernambuco dessa segunda-feira.

Falou sobre a possibilidade de sua candidatura e, com muita propriedade, discutiu os novos espaços que sua atuação política poderia ocupar. No final, declarou que considera falsa essa dicotomia entre pragmatismo do "pode pelo poder" e o radicalismo de uma pureza ideológica que se recusa a se contaminar com a realidade que gostaria de mudar. O que é uma visão sensata e equilibrada.

Vejam a seguir, a entrevista:

João Paulo Lima e Silva Filho, o Jampa, é filho do ex-prefeito do Recife João Paulo. A genealogia seria o bastante para ingressar na política. Pretenso candidato a deputado estadual em 2010, Jampa, no entanto, avisa: não é produto do “filhotismo”. Ao mesmo tempo, sabe que “a ideia de continuidade é muito forte, quase uma coisa de sangue”. A decisão de se candidatar não passou pelo crivo do pai, pegou de surpresa o próprio João Paulo e muita gente no PT, mas já ganhou o apoio público de gente como a presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo.

João Paulo, seu pai disse que você nunca se interessou em disputar um cargo político, mas agora parecia muito motivado. De onde vem a motivação para tentar um mandato de deputado?

A motivação vem muito da instigação que outras pessoas mostraram para mim quando a ideia veio à tona. Uns amigos pediram autorização para colocar a ideia em um blog para ver a receptividade da coisa, e nos debates que eles estão estabelecendo estou sentido que existe algo por trás dessa ideia que pode ser muito proveitosa para todo mundo. E todo mundo que eu digo são setores da sociedade pernambucana que não se sentem contemplados com os quadros que estão postos aí e sentem a necessidade de ter uma outra voz de esquerda que represente novas formas de estabelecer o debate no domínio público.

Que nova forma de estabelecer o debate é essa? Que bandeiras você pretende empunhar nessa empreitada?

A ideia ainda é muito embrionária. Na verdade, as bandeiras partem muito mais da avaliação de que existe uma sensibilidade nova da trajetória que eu tive, que simplesmente ser filho de quem eu sou. É uma coisa que não dá para dissociar. É uma trajetória muito particular que tem a ver com a trajetória dele, mas ao mesmo tempo não se confunde com a trajetória dele. O que a gente vem discutindo muito é essa posição particular que eu tive que confrontar para me constituir enquanto pessoa, que é o fato de ter participado no mesmo momento de setores sociais muito apartados. Meu pai se elegeu vereador, foi deputado durante dois mandatos, mas, durante esse tempo, decidiu se manter no lugar de origem. Então, eu morei até os 19 anos em um bairro pobre, que é a UR-6. Ao mesmo tempo eu estudava em colégios de classe média alta e tive a oportunidade de conviver com universos sociais que normalmente não se comunicam entre si. Alguns dos meus amigos de infância se marginalizaram, morreram no tráfico de drogas, enquanto os amigos da classe média se tornaram advogados, jornalistas... Ainda não existe um programa, mas uma sensibilidade que pode levantar uma série de bandeiras que podem ser debatidas com a maior seriedade. A princípio, uma das coisas que me chamam muito a atenção é retomar o debate sobre a questão da escola pública, que está aí desde o Brasil Império. A divisão entre educação pública e privada reforça as diferenças sociais. Tenho identificação muito grande também com as questões da juventude e o problema da violência. Essa vivência forte da infância como um mundo um pouco idílico e no qual as pessoas com quem eu gostava de jogar bola depois matavam uns aos outros me faz pensar sobre essas trajetórias de vida.

Você seria então a representação desses dois lados sociais? Seria uma diferencial no seu pleito se colocar como um interlocutor desses dois mundos?

Eu não me considero uma pessoa do povo. Tive uma educação extremamente diferenciada da maioria dos jovens. Além de frequentar escolas de classe média tive a oportunidade de estudar em universidades européias. Seria falso colocar que estaria representando de maneira autêntica esses dois setores. Faço parte de um grupo social, mas existem questões no mundo social brasileiro e de Pernambuco que transpassam os interesses específicos de cada setor. Eu tive que mediar essas coisas em mim, de mudar de classe social sem me sentir um traidor. Isso é um motor que pode me levar a ser um vetor de transformações.

Nessa semana o presidente Lula fez uma convocatória, aqui no Recife, para que as pessoas da área de saúde repensassem a forma de enfrentamento do crack, dos problemas das drogas em geral. Essa é uma preocupação sua enquanto político que pretender falar à juventude?

Com certeza. Inclusive tenho amigos que se viciaram. A iniciativa do Lula é muito importante porque o crack é tido como derivado da cocaína, então não existe política pública específica para o usuário da droga. Nas clínicas que cuidam disso, nos Capes, a maneira de lidar com esse tipo de usuário é totalmente diferente. É urgente que o Governo Federal e autoridades da saúde façam esse indicativo de que o crack não é uma droga como as outras e produz tipo de problema social ainda desconhecido pelo setor público, pois o crack não é uma droga como as outras e precisa ser tratada como tal. O Legislativo também pode contribuir nesse debate com novas leis.

Mesmo sua candidatura não tendo sido costurada por seu pai, muitos dirão que você tenta utilizar o prestígio de João Paulo para ocupar um espaço político. Está pronto para responder a essa desconfiança?

Não posso dizer o que vai acontecer do ponto de vista objetivo. O que já dá para perceber de cara é que a própria preocupação reflexiva que há na proposta de colocar meu nome como candidato já tende a evitar esse processo. Isso já diferencia a minha candidatura de outras postas no mercado eleitoral. Minha candidatura não é uma reprodução do “filhotismo”. Tenho o mesmo nome do pai, a ideia de continuidade é muito forte, uma coisa de sangue. Na terça-feira, na festa de aniversário do meu pai, muitas pessoas disseram “tal pai tal filho”, “filho de peixe peixinho é”. Então essas coisas, apesar de todo o controle que se tente exercer, elas estarão presentes. Todavia, no próprio blog a gente já começou fugindo dessa associação direta. Tanto que não uso meu nome, que é o mesmo do dele, e sim o Jampa, que é um apelido carinhoso que foi dado na infância. Isso já indica uma postura de que existe algo mais nessa trajetória do que o simples fato de ser filho de João Paulo, essa grande figura.

Ainda assim você espera contar com a presença dele na sua campanha?

Ainda não pensei nessas coisas. Sempre fui uma pessoa muito crítica às lógicas de reprodução do mundo social. Grande parte das coisas que eu estudo na sociologia me diz que essas coisas muitas vezes estão sendo maquinadas por uma estrutura mais ampla que uma mera escolha pessoal. Existe uma maturidade em relação ao fato de perceber que, mesmo que não queira, o peso do nome dele vai cair sobre a minha candidatura. O que dá para se construir é que é possível responder a uma demanda estrutural... Meu papel político é ocupar um espaço para o qual existe demanda, mas não há quadro que represente.

Algumas notas da imprensa dão conta de uma ciumeira de outros candidatos do CEU com a sua candidatura. Sua decisão de se lançar a deputado estadual gera desconforto para alguém dentro do partido?

Se existir isso, porque não ouvi nada a esse respeito, pode ser pelo desconhecimento. As pessoas não conhecem o meu percurso, o que tenho a dizer, a oferecer. É natural que surja a ciumeira por conta dessa ideia de ser simplesmente o filho de alguém conhecido que quer se aproveitar. Acho que a partir do momento que a candidatura seja homologada, que as pessoas vejam que eu tenho algo para contribuir com o partido e com a sociedade, isso será minimizado. Por exemplo, fiquei muito feliz com o depoimento e a adesão de Luciana Azevedo (PT), que é uma pessoa que admiro muito.

Você é um entusiasta da candidatura de seu pai ao Senado?

Eu sou. Acho que ele teria uma contribuição importante para dar, inclusive por conta dessa crise na instituição. Ele é um personagem que encarna um modelo de conduta política invejável do ponto de vista da ética e da maneira como assume os compromissos.

Qual a sua história no PT?

Eu me filiei ao PT em 2006, no momento de maior desgaste histórico. Eu achava que poderia contribuir com o debate das coisas que levaram o PT a se desagregar dessa forma e ao mesmo tempo tinha e tenho a crença até hoje de que o Partido dos Trabalhadores tem uma bandeira maior que a sua própria história. O documento de fundação do partido é muito bonito, serve de inspiração para a luta política das transformações sociais. Essas bandeiras não podem ser perdidas nem pelo pragmatismo político da manutenção do poder a todo custo, nem também de um radicalismo ideológico que não contemple a realidade. Não é preciso estar num ou outro extremo dessa dicotomia.

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